Museologia Viva e a Inteligência Artificial

Por: Renata Mello

PORTUGUÊS

O século XXI tem sido marcado por transformações profundas no modo de viver, trabalhar e conviver, motivados em grande parte pelo uso da tecnologia. As trocas de informações passaram a ficar intensas e aceleradas, potencializadas ainda mais com a chegada da inteligência artificial. Essas inovações trazem ganhos significativos, como a obtenção de respostas rápidas em sites de buscas dentro do mundo web. No entanto, o tempo para reflexões críticas sobre os dados obtidos não acompanham a mesma velocidade, podendo ser tornar um problema se não utilizados com consciência.

Outra mudança percebida com o uso da tecnologia está no intenso intercâmbio cultural entre indivíduos de territórios bem distintos, possibilitando inclusive, o trabalho remoto entre os agentes envolvidos desde que ambos estejam conectados a internet. Essa potencialidade abre inúmeras possibilidades e permite trocas sem fronteiras, mas este processo deve ser bem conduzido para não fragilizar saberes ancestrais que caracterizam a diversidade e as riquezas territoriais locais.

Diante desta realidade, os pesquisadores e gestores culturais, Renata Lima de Mello e Fernando Xavier Arteaga Pozo desenvolveram a dissertação de mestrado intitulada “Museologia Viva: Mediações do patrimônio com recursos inclusivos, participativos e multisensoriais” destacando que os museus possuem um papel estratégico neste processo, pois podem estimular a reflexão crítica e são espaços propícios na disseminação de particularidades culturais locais tão relevantes para a formação de identidades pessoais e coletivas.

Objetivando contribuir frente a estas novas demandas para o campo museal foi desenvolvido pesquisas profundas sobre o estado da arte e posteriormente desenvolvido o conceito de “Museologia Viva”, no qual o usuário é considerado o protagonista do processo. Nesta proposta adota-se recursos inclusivos, acessíveis e multisensoriais associados aos sistemas tecnológicos inteligentes ou mediados por seres humanos, com o intuito de apoiar nos processos de formação de conhecimento pautados por reflexões críticas. Somado a isso, foi identificado a necessidade destas instituições estarem mais próximas de suas comunidades, criando ações fora dos seus limites físicos, gerando com isso relações mais afetivas, significativas e construtivas com seus públicos.

O resultado completo desta pesquisa e suas aplicações estão disponibilizadas AQUI.

Nota: Essa dissertação de mestrado foi desenvolvida em 2019 para obtenção do título de Mestre em Gestão Cultural pela Universitat Internacional de Catalunya em Barcelona e obteve grande reconhecimento acadêmico.

ESPANHOL

Museología viva e Inteligencia Artificial

El siglo XXI se ha caracterizado por profundas transformaciones en nuestra forma de vivir, trabajar y socializar, impulsadas en gran medida por el uso de la tecnología. Los intercambios de información se han intensificado y acelerado, potenciados además por la llegada de la inteligencia artificial. Estas innovaciones aportan ventajas significativas, como la obtención de respuestas rápidas en los motores de búsqueda dentro del mundo web. Sin embargo, el tiempo de reflexión crítica sobre los datos obtenidos no sigue la misma velocidad, y puede convertirse en un problema si no se utiliza con conciencia.

Otro cambio que se percibe con el uso de la tecnología es el intenso intercambio cultural entre individuos de territorios muy diferentes, posibilitando incluso el trabajo a distancia entre los agentes implicados siempre que ambos estén conectados a internet. Este potencial abre innumerables posibilidades y permite intercambios sin fronteras, pero este proceso debe ser bien conducido para no debilitar los conocimientos ancestrales que caracterizan la diversidad y la riqueza territorial local.

Frente a esta realidad, los investigadores y gestores culturales, Renata Lima de Mello y Fernando Xavier Arteaga Pozo desarrollaron el trabajo final del máster titulado “Museología Viva: Mediaciones del patrimonio con recursos inclusivos, participativos y multisensoriales” destacando que los museos tienen un papel estratégico en este proceso, ya que pueden estimular la reflexión crítica y son espacios propicios en la difusión de las particularidades culturales locales tan relevantes para la formación de las identidades personales y colectivas.

Para contribuir a estas nuevas demandas para el campo museológico, se desarrolló una investigación en profundidad sobre el estado del arte y posteriormente se desarrolló el concepto de “Museología Viva”, en el que el usuario es considerado el protagonista del proceso. Esta propuesta adopta recursos inclusivos, accesibles y multisensoriales asociados a sistemas tecnológicos inteligentes o mediados por seres humanos, para apoyar los procesos de formación de conocimiento a partir de reflexiones críticas. Además, se identificó la necesidad de que estas instituciones estén más cerca de sus comunidades, creando acciones fuera de sus límites físicos, generando así relaciones más afectivas, significativas y constructivas con sus públicos.

Los resultados completos de esta investigación y sus aplicaciones están disponibles a continuación.

Nota: Este trabajo fue desarrollado en 2019 para la obtención del título de Máster en Gestión Cultural por la Universitat Internacional de Catalunya en Barcelona y obtuvo un gran reconocimiento académico.

Transver: Fotografias registradas além da visão

A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresentou as fotografias feitas por pessoas com deficiência visual, resultantes de um curso promovido pelo Museu.

Por: Renata Mello

Foto: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Renata Mello

A exposição fotográfica “Transver – Fotografias Feitas Por Pessoas Com Deficiência Visual” da Pinacoteca do Estado de São Paulo, retratou um interesse de quebrar paradigmas e abrir novos horizontes aos participantes com deficiência, demonstrando que mesmo sem a visão, as pessoas podem apreender os espaços a partir de outros órgãos do sentido e com a aplicação de algumas técnicas, realizar seus próprios registros visuais.

O educador João Kulcsár foi o responsável por colaborar no desenvolvimento de novas habilidades aos dez participantes do curso voltado ao registro fotográfico por pessoas com deficiência visual, realizado pelo Núcleo de Ação Educativa e que ocorreu nas instalações do próprio Museu. O intuito foi demonstrar-lhes as possibilidades de definir cenas através dos cheiros, calor e textura dos objetos, por exemplo.

A mostra apresentou os resultados desse interessante trabalho, de forma visual (fotos), tátil (através de imagens em auto relevo e textos em Braille) e sonora (audiodescrições), contribuindo no processo de inclusão da arte para todos os públicos.

NBR 9050: Acessibilidade no caminho da inclusão

A nova edição da norma de acessibilidade arquitetônica e urbanística contempla os princípios do desenho universal e aponta para a inclusão das pessoas, independente das condições sensoriais, físicas e intelectuais, no uso dos espaços.

Por: Renata Mello

Acessibilidade para todos.
Fonte: Renata Mello, 2010

 O desafio de criar ambientes cada vez mais inclusivos a um maior número de pessoas, respeitando as características físicas, sensoriais e intelectuais tem sido recorrente aos profissionais da arquitetura, engenharia, design de interiores e áreas correlatas.

Em grande parte, o Decreto Federal 5.296/2004, que regulamenta as leis, 10.048/2000 voltada a priorização no atendimento às pessoas que especifica e a 10.098/2000 que estabelece critérios e normas gerais para a implantação da acessibilidade como fator essencial a inclusão das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, teve grande responsabilidade no processo de adoção dos referenciais técnicos que criam condições de uso dos espaços, das edificações, mobiliários e das cidades por pessoas com deficiência visual, auditiva, física ou com dificuldades de locomoção.

A partir do decreto, a NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), passou a vigorar com importância de lei, ditando, portanto, os parâmetros dimensionais para a elaboração de projetos e construções públicas e coletivas acessíveis. Devido a tamanha relevância, os conselhos de arquitetura e engenharia inseriram uma nota no termo de responsabilidade técnica, referente a adoção da acessibilidade, destacando a obrigatoriedade do seu atendimento nos projetos e obras.

Em 2004 e nos anos que seguiram foram intensificados os trabalhos de conscientização sobre essa temática ao corpo técnico da construção, contemplando os profissionais autônomos, os funcionários de empresas privadas, públicas e os docentes de instituições de ensino, participando nesse processo os órgãos públicos, os conselhos profissionais e demais instituições interessadas que produziram cursos e cartilhas informativas.

No princípio da obrigatoriedade da acessibilidade, ocorreram muitas dúvidas e equívocos na interpretação da NBR 9050:2004, principalmente nos capítulos de sanitários e da sinalização. Sobre esse último, destaca-se os pisos táteis que foram implantados em exagero, dificultando a locomoção das pessoas com deficiência visual.

Os desafios continuam, pois, a cada novo projeto são demandas novas soluções que devem transpor da teoria à prática, para a viabilização do espaço construído inclusivo. Nesse processo, surgem proposições positivas que podem auxiliar no próprio aperfeiçoamento da norma técnica, por isso, de tempos em tempos, a ABNT disponibiliza versões revisadas.

A nova NBR 9050, data de outubro de 2015, traz os princípios do Desenho Universal, que são premissas fundamentais para a elaboração de projetos inclusivos. Essa importante mudança, reforça a ideologia de que os produtos e ambientes construídos, por exemplo, não devem ser concebidos para determinadas fatias da população e que o desafio a ser enfrentado, deve ser mais amplo: o da diversidade humana como ponto de partida.

Em perspectiva, os edifícios apresentarão usualmente, corredores mais amplos, acabamentos que minimizam o risco de acidentes, barras de apoios nos sanitários, sinalizações táteis, visuais e sonoras nos pontos relevantes do percurso. Tais medidas, contribuem para a construção de um mundo mais equitativo e inclusivo, mas desafiará constantemente os profissionais do setor, que deverão focar na qualidade com funcionalidade, estética e segurança.

Diálogo no Escuro e os sentidos

Diálogo no Escuro é uma exposição que convida o visitante a perceber o mundo além da visão, reconhecendo os ambientes e objetos através do tato, audição e paladar.

Por: Renata Mello

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 Foto: Renata Mello, 2016

Em meio ao ritmo frenético da cidade de São Paulo, surge um convite para se despir da urgência de cumprir com as atividades do dia a dia e imergir em uma outra frequência, aquela que nos permite conhecer os ambientes, os objetos e as pessoas, sem pressa.

A proposta da exposição é proporcionar ao visitante o reconhecimento e a redescoberta de lugares habituais e objetos, sem o uso da visão, percorrendo alguns ambientes no escuro, sob a supervisão de um guia com deficiência visual.

A visitação tem duração de 45 minutos aproximadamente e ocorre em grupos geralmente de 8 pessoas. Estes participantes recebem bengalas que os apoiam durante o percurso, pois através do uso das mesmas é possível reconhecer barreiras nos espaços e evitar acidentes.

A experiência é muito enriquecedora. Durante o trajeto os partícipes vão revelando suas percepções e em conjunto buscam desvendar esse mundo “novo”. A cada item reconhecido, através do tato e do olfato, representa uma conquista pessoal e do grupo.

Para vivenciar as percepções do paladar, sugere-se comprar um lanche no escuro e degustá-lo no ambiente de refeições. Nesse momento, abre-se um espaço para perguntas que o guia responde prontamente relevando a todos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual, mas também relatando detalhes tão ricos captados pelos demais órgãos dos sentidos.

A proposta da exposição proporciona a troca de experiências entre pessoas com habilidades e competências distintas, que enfrentam naquele momento os mesmos desafios. Isso mostra que todos são iguais e ao mesmo tempo diferentes e o quão importante é respeitar essas diferenças.  Uma proposta cultural singular e que vale ser vivenciada.

Para saber mais: http://www.dialogonoescuro.com.br/#dialog-in-the-dark