NBR 9050: Acessibilidade no caminho da inclusão

A nova edição da norma de acessibilidade arquitetônica e urbanística contempla os princípios do desenho universal e aponta para a inclusão das pessoas, independente das condições sensoriais, físicas e intelectuais, no uso dos espaços.

Por: Renata Mello

Acessibilidade para todos.
Fonte: Renata Mello, 2010

 O desafio de criar ambientes cada vez mais inclusivos a um maior número de pessoas, respeitando as características físicas, sensoriais e intelectuais tem sido recorrente aos profissionais da arquitetura, engenharia, design de interiores e áreas correlatas.

Em grande parte, o Decreto Federal 5.296/2004, que regulamenta as leis, 10.048/2000 voltada a priorização no atendimento às pessoas que especifica e a 10.098/2000 que estabelece critérios e normas gerais para a implantação da acessibilidade como fator essencial a inclusão das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, teve grande responsabilidade no processo de adoção dos referenciais técnicos que criam condições de uso dos espaços, das edificações, mobiliários e das cidades por pessoas com deficiência visual, auditiva, física ou com dificuldades de locomoção.

A partir do decreto, a NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), passou a vigorar com importância de lei, ditando, portanto, os parâmetros dimensionais para a elaboração de projetos e construções públicas e coletivas acessíveis. Devido a tamanha relevância, os conselhos de arquitetura e engenharia inseriram uma nota no termo de responsabilidade técnica, referente a adoção da acessibilidade, destacando a obrigatoriedade do seu atendimento nos projetos e obras.

Em 2004 e nos anos que seguiram foram intensificados os trabalhos de conscientização sobre essa temática ao corpo técnico da construção, contemplando os profissionais autônomos, os funcionários de empresas privadas, públicas e os docentes de instituições de ensino, participando nesse processo os órgãos públicos, os conselhos profissionais e demais instituições interessadas que produziram cursos e cartilhas informativas.

No princípio da obrigatoriedade da acessibilidade, ocorreram muitas dúvidas e equívocos na interpretação da NBR 9050:2004, principalmente nos capítulos de sanitários e da sinalização. Sobre esse último, destaca-se os pisos táteis que foram implantados em exagero, dificultando a locomoção das pessoas com deficiência visual.

Os desafios continuam, pois, a cada novo projeto são demandas novas soluções que devem transpor da teoria à prática, para a viabilização do espaço construído inclusivo. Nesse processo, surgem proposições positivas que podem auxiliar no próprio aperfeiçoamento da norma técnica, por isso, de tempos em tempos, a ABNT disponibiliza versões revisadas.

A nova NBR 9050, data de outubro de 2015, traz os princípios do Desenho Universal, que são premissas fundamentais para a elaboração de projetos inclusivos. Essa importante mudança, reforça a ideologia de que os produtos e ambientes construídos, por exemplo, não devem ser concebidos para determinadas fatias da população e que o desafio a ser enfrentado, deve ser mais amplo: o da diversidade humana como ponto de partida.

Em perspectiva, os edifícios apresentarão usualmente, corredores mais amplos, acabamentos que minimizam o risco de acidentes, barras de apoios nos sanitários, sinalizações táteis, visuais e sonoras nos pontos relevantes do percurso. Tais medidas, contribuem para a construção de um mundo mais equitativo e inclusivo, mas desafiará constantemente os profissionais do setor, que deverão focar na qualidade com funcionalidade, estética e segurança.

Vila Dignidade: Habitação para idosos

O Programa Vila Dignidade consiste na oferta de casas térreas a idosos independentes no Estado de São Paulo, atendendo aos preceitos da acessibilidade e da sustentabilidade.

Por: Renata Mello

Foto: Renata Mello, Caraguatatuba, 2015.

As vilas destinadas aos idosos estão sendo implantadas em cidades no interior do Estado de São Paulo, com o intuito de atender a uma demanda crescente de pessoas com 60 anos ou mais. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do governo do Estado de São Paulo é a responsável pela construção desses locais, em parceria com as municipalidades.

Para residir nesses empreendimentos, os longevos devem morar sozinhos, ter independência na realização das atividades da vida diária, morar pelo menos dois anos no município do conjunto e não apresentar fortes vínculos com as bases familiares.

As casas ofertadas possuem sala integrada a cozinha e a área de serviço, além de quarto e banheiro que atendem as exigências da norma de acessibilidade, NBR 9050 da ABNT, tanto nas áreas de circulação e espaços de aproximação e uso de móveis e equipamentos, quanto nos materiais, como pisos antiderrapantes e barras no banheiro. Buscaram também racionalizar os processos construtivos, para ganhar em prazo e promover uma obra mais limpa e sustentável.

A cidade de Caraguatatuba recebeu um desses conjuntos, que foi construído em local de fácil acesso, próximo a rodoviária e de outros equipamentos públicos de lazer e saúde da cidade. Dentro da própria vila instalaram um Centro de Convivência, áreas ajardinadas e uma horta, para estimular o convívio entre os moradores e melhorar o bem-estar.

Além da acessibilidade nas unidades e áreas comuns, esse empreendimento, contou com o sistema construtivo, Steel Frame, em que chapas de OSB foram fixadas nos perfis leves e receberam lã de vidro ou de rocha para melhorar o conforto térmico e acústico e como acabamento final instalaram réguas horizontais de siding vinílico. Além disso, placas fotovoltaicas foram locadas na cobertura para o aquecimento da água e sistema economizador de água colocado nas torneiras. Devido a salinidade os perfis das esquadrias foram em alumínio para dar menos manutenção e ampliar a vida útil do empreendimento.

Reflexão final: O número de idosos está crescendo de forma acelerada no Brasil e as políticas públicas devem pensar em novas formas de atendimento a essa camada da população. A construção de casas populares, acessíveis e salubres podem beneficiar nesse processo de envelhecimento com qualidade e o projeto Vila Dignidade é uma resposta inicial a essa questão. A solução ideal seria buscar uma integração geracional, em que crianças, jovens, adultos e longevos pudessem conviver e trocar suas experiências de vida, talvez esse seja o próximo passo.

Diálogo no Escuro e os sentidos

Diálogo no Escuro é uma exposição que convida o visitante a perceber o mundo além da visão, reconhecendo os ambientes e objetos através do tato, audição e paladar.

Por: Renata Mello

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 Foto: Renata Mello, 2016

Em meio ao ritmo frenético da cidade de São Paulo, surge um convite para se despir da urgência de cumprir com as atividades do dia a dia e imergir em uma outra frequência, aquela que nos permite conhecer os ambientes, os objetos e as pessoas, sem pressa.

A proposta da exposição é proporcionar ao visitante o reconhecimento e a redescoberta de lugares habituais e objetos, sem o uso da visão, percorrendo alguns ambientes no escuro, sob a supervisão de um guia com deficiência visual.

A visitação tem duração de 45 minutos aproximadamente e ocorre em grupos geralmente de 8 pessoas. Estes participantes recebem bengalas que os apoiam durante o percurso, pois através do uso das mesmas é possível reconhecer barreiras nos espaços e evitar acidentes.

A experiência é muito enriquecedora. Durante o trajeto os partícipes vão revelando suas percepções e em conjunto buscam desvendar esse mundo “novo”. A cada item reconhecido, através do tato e do olfato, representa uma conquista pessoal e do grupo.

Para vivenciar as percepções do paladar, sugere-se comprar um lanche no escuro e degustá-lo no ambiente de refeições. Nesse momento, abre-se um espaço para perguntas que o guia responde prontamente relevando a todos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual, mas também relatando detalhes tão ricos captados pelos demais órgãos dos sentidos.

A proposta da exposição proporciona a troca de experiências entre pessoas com habilidades e competências distintas, que enfrentam naquele momento os mesmos desafios. Isso mostra que todos são iguais e ao mesmo tempo diferentes e o quão importante é respeitar essas diferenças.  Uma proposta cultural singular e que vale ser vivenciada.

Para saber mais: http://www.dialogonoescuro.com.br/#dialog-in-the-dark

Dissertação de Mestrado

Qualidade da habitação de interesse social: análises a partir da acessibilidade e desenho universal. Estudo de caso do conjunto residencial Rubens Lara, Cubatão, SP

Autor:

Renata Lima de Mello

Resumo(s):

[pt] O Brasil possui como grande desafio a redução do déficit habitacional, principalmente para favorecer a população de baixa renda e isso tem sido trabalhado pelas políticas públicas nas três esferas de governo. Dentre as ações governamentais destaca-se a produção de moradias através da parceria público-privada, além de melhorar as condições de financiamento para aquisição do imóvel. Focam-se principalmente no atendimento quantitativo do problema habitacional, relegando para o segundo plano os aspectos qualitativos da questão, salvo algumas exceções. Sobre os casos excepcionais, pode-se mencionar a atuação do Governo do Estado de São Paulo, através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e Secretaria de Estado da Habitação, que têm contemplado também os aspectos qualitativos dos projetos arquitetônicos e urbanísticos. Nesse contexto, destaca-se o Conjunto Residencial Rubens Lara localizado em Cubatão, São Paulo, que foi construído a partir de um projeto executivo detalhado, que especifica as características técnicas dos passeios públicos, das áreas comuns condominiais, das unidades habitacionais adaptadas, das áreas de convivência, contribuindo para o acesso e uso desses espaços. Nesse projeto foram implantados os conceitos de Acessibilidade e do Desenho Universal, seguindo as legislações e normas técnicas vigentes sobre esse assunto, resultando em soluções projetuais diferenciadas no universo da habitação social no Brasil. Dessa forma, essa dissertação se propõe a analisar esse Conjunto, a partir desses referenciais legais, além de discutir sobre as boas práticas encontradas, com o intuito de contribuir com os futuros projetos de moradia social focados na qualidade a partir da acessibilidade e do desenho universal.

[en] One of the greatest challenges Brazil faces is to reduce the deficit in dwellings supply, with an extra focus on the low-income market, which government officials have been working towards through city, state and federal policies. Among such acts, some are noteworthy as dwelling construction through partnerships with the private sector, as well as providing better loan conditions for property purchase. Such government efforts focus mainly on the quantitative aspect of the dwelling market problem, pushing qualitative matters to the background, but in a few initiatives, among which stands out State of São Paulo’s commitment through the state owned Company for Housing And City Development and the State Department for Housing, which have considered qualitative matters within the architectural and urbanistic projects undertaken by them. One such project in particular deserves special mention: the Rubens Lara condominium, located in Cubatão, São Paulo, which was built from a detailed executive plan, which specified technical details of its sidewalks and access streets, common grounds, accessible apartments and leisure areas, making for better access and use of these places. In this project were employed the concepts of Accessibility and Universal Design, following the legislation and technical rules which govern such matters at the time, which yielded in distinguished design solutions in the social dwelling market in Brazil. Therefore, this dissertation aims to study this project and its outcome, starting at the legal references, as well as discussing the good practices found in it, looking at contributing with future projects of social housing focused on quality, founded on Accessibility and Universal Design tenets.

Titulação: Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Contribuidor(es):

[Orientador] Gilda Collet Bruna

[Membro da Banca] Maria Augusta Justi Pisani

[Membro da Banca] Helena Napoleon Degreas

Assunto(s):

[en] universal design

[pt] qualidade

[pt] habitação social

[pt] acessibilidade

[pt] desenho universal

[pt] ARQUITETURA E URBANISMO

[en] accessibility

[en] social housing

[en] quality

Data da defesa: 30/07/2013 em Universidade Presbiteriana Mackenzie

Arquivo para baixar: Dissertação em PDF

Fonte: http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/342. Acesso em 23/09/2016.

 

Mobilidade para o pedestre: avaliação das condições das calçadas acessíveis em ruas comerciais de São Paulo

Artigo apresentado no II ENANPARQ – 2012

Mobilidade para o pedestre: avaliação das condições das calçadas acessíveis em ruas comerciais de São Paulo

Autoras

Renata Lima de MELLO
Arquiteta e Urbanista; Mestranda; Universidade Presbiteriana Mackenzie; renatamello@bioarq.com.br

Gilda Collet BRUNA
Arquiteta e Urbanista; Profa. Dra; Universidade Presbiteriana Mackenzie; gildacbruna@gmail.com

RESUMO
As calçadas são vias voltadas ao trânsito de pedestres e desempenham um papel essencial para a circulação urbana. O deslocamento a pé representa 33,13% na região metropolitana de São Paulo, devendo as calçadas permitir segurança e facilidade no deslocamento a todos os transeuntes. É sabido que essas áreas de circulação disputam espaço com telefones públicos, lixeiras, tampas de inspeção, árvores, mesas, postes de iluminação, postes de sinalização entre outros. O presente artigo propõe analisar as características relevantes das calçadas nos trechos reformados a partir de 2006 das ruas: Avanhandava e Oscar Freire, importantes ruas comerciais de São Paulo, a partir da organização espacial proposta pelo Decreto Municipal 45. 904 de 19 de Maio de 2005 e NBR 9050:2004 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, os quais separam as calçadas em três faixas distintas, faixa de acesso ao imóvel, faixa livre e faixa de serviço. Para tanto se pretende tecer considerações conceituais e práticas por meio de análise de exemplos implantados na cidade de São Paulo. Trata-se de focalizar a panorama da mobilidade visando à segurança e autonomia das pessoas, conseguidas através das aplicações das normas e legislações voltadas à acessibilidade.
PALAVRAS-CHAVE: calçadas; deslocamento à pé; organização espacial; acessibilidade

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Bibliografia:

MELLO, R.L.; BRUNA, G.C.. Mobilidade para o pedestre: avaliação das condições das calçadas acessíveis em ruas comerciais de São Paulo. In: II ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO, 2012, Natal/RN. Anais eletrônicos… Natal: ENANPARQ, 2012. CD-ROM.